segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution) (1957) Nota: 7,8






Gênero: Suspense / Policial / Drama
Duração: 1h56
País: EUA
Direção: Billy Wilder
Elenco principal: Tyrone Power, Marlene Dietrich, Charles Laughton, Elsa Lanchester, John Williams, Henry Daniell, Ian Wolfe, Torin Thatcher, Norma Varden, Una O'Connor, Francis Compton, Philip Tonge, Ruta Lee
Nota: 7,8

Testemunha de Acusação é um filme de 1957 (em preto e branco) que prova que um bom roteiro e boa trama são atemporais. Ou seja, uma boa narrativa será sempre uma boa narrativa em qualquer tempo, não importa o ano em que tenha sido produzida. Por isso, no post inicial deste blog, frisei que analisava os filmes aqui pelas histórias e enredos e não por atores, diretores, etc. Embora, claro, eles tenham sua importância. Que nunca será maior do que as histórias às quais tenham a missão de dar vida.

Gosto de narrativas inteligentes. O filme é baseado em um conto da genial escritora britânica, Agatha Christie (conhecida como a rainha do suspense), sobre o julgamento de um homem acusado de assassinato. Só por aí, já começou bem.

A história começa com o retorno às atividades profissionais do advogado, Sir Wilfrid Robarts (Charles Laughton), conhecido por enfrentar e ganhar até os processos criminais mais difíceis. Ele estivera em coma após um infarto e agora deve tomar alguns cuidados com a saúde como alimentar-se adequadamente e evitar charutos, álcool e os processos tribunais, seus vícios e paixões.

A enfermeira Plimsoll (Elsa Lanchester) tem a difícil missão de mantê-lo sob controle e tenta a todo custo evitar que ele sofra com fortes emoções. No entanto, o trabalho está na veia e quando seu amigo Mayhew (Henry Daniell) aparece com um caso desafiador, ele não pensa duas vezes em aceitá-lo.

Wilfrid deveria defender Leonard Vole (Tyrone Power), um rapaz desempregado e sem dinheiro, da acusação de ter assassinado uma viúva rica para ficar com sua herança. Vole é casado com Christine Helm Vole (Marlene Dietrich), a quem ama perdidamente.

No entanto, o rapaz, que já havia sido vendedor, procurava alguém para patrocinar sua invenção. Uma batedeira de ovos que também separava a clara das gemas. Eis que, ao andar pelas ruas de Londres, pensando no que poderia comprar de presente de aniversário para sua mulher se tivesse grana, para em frente a uma loja de chapéus. E vê uma senhora, Emily Jane French (Norma Varden), experimentando alguns modelos. Vole aconselha ela a comprar um determinado modelo e a senhora de 56 anos fica encantada pelo rapaz.

Vole começa então a visitar com frequência a senhora French, que se apaixona pelo rapaz. Ele, porém, só a quer como amiga. Numa certa noite, então, após Vole ter feito sua visita habitual à viúva, a mesma é encontrada morta, com um golpe de um objeto pesado na nuca. Naturalmente, Vole torna-se o principal suspeito do assassinato, ainda mais depois que vem à tona o fato de que ele se tornara seu principal herdeiro, ajudando, inclusive, a senhora French a alterar seu testamento.

Seu único álibi é a palavra da esposa. Segundo os peritos, o assassinato teria se dado entre 21h30 e 22h. Segundo Vole, sua esposa o viu chegar em casa pontualmente às 21h25. Para que as investigações possam fluir, Vole acaba sendo preso preventivamente.

Sua esposa, então, comparece ao escritório do advogado de defesa, Wilfrid. Ela revela que não é casada oficialmente com Vole. Os dois teriam se conhecido na Alemanha, um tempo atrás, e ela já tinha um marido lá. Porém, juntou-se a Vole para fugir da Alemanha e poder morar na Inglaterra. Ela dá a entender que estava com Vole por gratidão e não por amor.

Num primeiro momento, ela concorda em ser testemunha de defesa de Vole. Mas depois, durante o julgamento, surpreendentemente surge como testemunha de acusação e assim a narrativa caminha para um desfecho realmente muito interessante. Vole parece estar sem saída e está prestes a ser condenado à forca por um júri popular.

Do meio pra frente, as cenas do filme são praticamente de depoimentos de testemunha e tribunal. Quando o destino de Vole parece estar definitivamente traçado, vários elementos novos mudam toda a ordem dos prováveis acontecimentos.

É um suspense policial muito bem amarrado, feito de forma simples, porém, ao mesmo tempo racional e passional. Com um final de tirar o fôlego! Por isso, Agatha Christie é mundialmente conhecida. Por conseguir dar reviravoltas em suas histórias de uma maneira racional, unida à passionalidade humana de seus personagens. Recomendo muito! Mas não assista se estiver cansado ou com sono. O filme é relativamente parado e em preto e branco, o que cansa o olhar. O enredo exige atenção total! Então, não dá nem para piscar. Achei excelente! E tem no Netflix! Nota 7,8! Bom divertimento e até a próxima! Forte abraço.


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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Águas Rasas (The Shallows) (2016) Nota: 6,0





Gênero: Ação / Sobrevivência
Duração: 1h27
País: EUA
Direção: Jaume Collet-Serra
Elenco principal: Blake Lively, Óscar Jaenada, Brett Cullen, Sedona Legge, Angelo José Lozano Corzo, José Manuel Trujillo Salas, Pablo Calva, Diego Espejel, Janelle Bailey
Nota: 6,0

Para os saudosos de um grande clássico do final dos anos 70 e início dos anos 80, o famoso Tubarão está de volta. Repaginado e com um roteiro diferente, o grande tubarão branco volta em Águas Rasas para aterrorizar surfistas de uma praia quase deserta no México.

Aliás, neste aspecto, ponto para o cenário. Uma praia belíssima! Um verdadeiro paraíso de águas azuis e esverdeadas. Dizem que o local da filmagem é, na verdade, um recanto meio escondido na Austrália. Lindo demais! Com a relação à história, entendo que ficou um pouco mais realista do que as dos Tubarões das décadas citadas.

Aqueles eram tubarões assassinos, que queriam comer gente a todo custo e tinham uns 15 metros de comprimento. Não que o animal deste filme seja pequeno, mas está numa proporção mais aceitável. A proposta de roteiro também é mais pés no chão, pois é um tubarão que ataca surfistas que se aproximam do local em que ele se alimenta de uma baleia morta.

Fui procurar vídeos no YouTube sobre ataques de tubarões a surfistas e, realmente, a intenção do diretor Jaume Collet-Serra foi aproximar-se da realidade. É algo que pode acontecer embora, na maioria das vezes, os tubarões não sejam tão grandes e podem ser afastados com ferramentas de mergulho ou mesmo com a prancha. Mas que estes ataques acontecem, acontecem!

Bom, a história é bem simples. Nancy (Blake Lively) é uma estudante de medicina que precisa refletir na vida. Ela está descontente com a profissão que escolheu porque sabe que não pode salvar todas as vidas que gostaria. A angústia dela a faz refletir sobre a recente perda recente da mãe (interpretada por Janelle Bailey - como aparece em poucas cenas e por poucos segundos, o nome da personagem não fica claro).

Para pensar na vida, ela vai sozinha até essa praia no México, local que sua mãe visitou quando estava grávida de Nancy. Por isso, o lugar é especial para a moça. Nancy, aliás, insiste em saber o nome do local secreto, mas ninguém diz a ela.

Quando vai surfar, depara-se com o cadáver de uma baleia em estado de decomposição. Ao chegar perto, é atacada por um tubarão que se alimenta dele. O tubarão fere gravemente a perna de Nancy, que perde contato com sua prancha de surfe e não consegue nadar de volta até a orla, distante cerca de 200 metros. Precisando urgentemente apoiar-se em terra firme, ela encontra uma rocha e consegue sair da água. Ali, Nancy pensa em estratégias de como voltar para a orla. Ela vira a noite sobre a pedra e ganha a companhia de uma gaivota que também está "presa" ali, junto com ela. Ela está com a asa quebrada e não consegue voar.

Enquanto tenta bolar um plano de como retornar à faixa de areia da praia, Nancy precisa lidar com várias adversidades como o grave ferimento, que ameaça gangrenar. A moça começa a definhar. Tem frio à noite e não consegue se proteger do forte sol durante o dia. Para piorar, a maré alta ainda ameaça cobrir a rocha que agora é seu abrigo. A problemática é: ela está sozinha, muito distante da orla, gravemente ferida e não tem como voltar, pois é "vigiada" pelo enorme tubarão que anda por perto. Como então resolver a questão? A narrativa gira em torno disso durante todo o tempo de quase uma hora e meia.

Mesmo assim, o filme não é chato e tem boas cenas de ação. A atriz Blake Lively, que atua praticamente sozinha, trabalhou muito bem e Nancy acaba cativando o público por ser uma moça dócil e ao mesmo tempo lutadora e guerreira. Claro que existem as cenas de ficção, com o tubarão tentando derrubá-la de uma boia que encontra no meio do oceano, entre outras.

De modo geral, gostei e por isso dei a nota 6,0. Dá pra assistir tranquilamente. Passa longe de ser decepcionante. Pelo menos para mim! Segue o trailer aí embaixo. Um forte abraço!



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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Capitão América: Guerra Civil (2016) Nota: 8,3






Gênero: Ação / Aventura / Suspense
Duração: 2h27
País: EUA
Direção: Anthony Russo, Joe Russo
Elenco principal: Chris Evans, Robert Downey, Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Jeremy Renner, Don Cheadle, Paul Rudd, Elizabeth Olsen, Emily VanCamp, Tom Holland, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Frank Grillo, Daniel Brühl, Martin Freeman, William Hurt
Nota: 8,3

Simplesmente, o melhor filme de herói da Marvel que já vi! Primeiro, porque reúne diversos personagens num contexto muito bem pensado. Segundo, porque o roteiro é muito bem trabalhado. Não é um simples filme bobinho de heróis que precisam salvar o mundo de alguma ameaça. Pelo contrário. A narrativa envolve dramas pessoais, conflitos internos e até um certo suspense, que só é esclarecido no final.

A história gira em torno de autoridades tentarem controlar as ações dos Vingadores. No quartel general deles, o Secretário de Estado, Thunderbolt Ross, diz ao grupo que a ONU (Organização das Nações Unidas) está escrevendo uma lei para regulamentar o modo de ação dos heróis. O "Tratado de Sokovia" seria aprovado por 117 países, em uma convenção e estabeleceria normas e regras para que eles pudessem agir de maneira controlada e somente se fossem solicitados.

Isso porque, nas missões anteriores, como Ultron, o grupo de heróis destruiu uma cidade inteira e matou inocentes na perseguição aos inimigos. O mesmo acontecera em Lagos, Nigéria (Reino de Wakanda), nos dias atuais, na última missão da equipe.

Com isso, os heróis se dividem entre os que topam assinar o acordo, os que não topam e os que estão indecisos. Tony Stark (Robert Downey, Jr.), o Homem de Ferro, quer assinar e tem o apoio de Visão (Paul Bettany) e Viúva Negra (Scarlett Johansson). Já o grupo liderado pelo Capitão Steve Rogers (Chris Evans) e pelo Falcão (Anthony Mackie) são contra a assinatura e passam a ser considerados fora-da-lei.

Uma reunião em Viena, Áustria, é marcada para a assinatura do documento, mas um atentado com bomba mata T'Chaka, o Rei de Wakanda. Um vídeo de segurança mostra que o responsável teria sido Bucky Barnes (Sebastian Stan), o Soldado Invernal, a quem o filho de T'Chaka, T'Challa (Chadwick Boseman), o Pantera Negra, jura matar e a quem o Capitão América protege, pois Bucky é seu amigo de longa data.

Enquanto o Pantera tenta fazer justiça com as próprias mãos e persegue Bucky, Steve Rogers tenta salvá-lo. O confronto acaba em uma grande confusão na cidade de Bucareste, na Romênia. Rogers conta com a ajuda do Falcão. A polícia é acionada e, após intensa perseguição, o Coronel James Rhodes (Don Cheadle) prende a todos.

Já na sede da polícia, um psicólogo é chamado para entrevistar Bucky. Mas, na verdade, quem está disfarçado de psicólogo é o coronel Helmut Zemo. Ele pronuncia algumas palavras de um livro antigo e consegue ter Bucky sob seu comando. O Soldado Invernal começa a agir inconscientemente, como um animal, liberta-se e foge da prisão. Assim, Steve e o Falcão vão atrás dele para capturá-lo e protegê-lo do Pantera.

Depois de recuperar seus sentidos, Bucky avisa para Steve que em uma base da Hidra na Sibéria, em 1991, foram criados outros super soldados iguais a ele que precisam ser combatidos ou desativados para não caírem no comando de mãos erradas, como as de Zemo. Foragidos, eles precisam ir até a Sibéria para impedir que isso aconteça. Enquanto isso, Tony Stark tem 36 horas para recapturá-los e levá-los presos. Aí então, começa a verdadeira guerra civil entre os heróis.

O Homem de Ferro monta uma equipe, que precisa capturar os heróis foragidos e impedir que saiam do país. Para isso, recruta também o Homem Aranha. Já a equipe do Capitão América, considerada fora-da-lei, tenta salvar o mundo de um possível mal maior. Ele também recruta heróis para ajudá-lo a concluir sua missão, como o Homem Formiga. A batalha é permeada pelo drama pessoal de Stark, que sente saudades dos pais, mortos também em 1991, num acidente automobilístico. A bela narrativa faz com que a guerra entre os heróis e a morte dos pais de Stark sejam entrelaçadas e conectadas de uma maneira surpreendente.

Por isso o filme é tão atraente. Não apenas pelos heróis em si, as lutas ou pelos ótimos efeitos especiais. Mas sim pela carga dramática que envolve a narrativa, com certo de teor de suspense. Achei muito bom mesmo! Por isso, dei a nota 8,3! Recomendo! Um ótimo divertimento para a família. Um forte abraço.


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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Leviatã (Leviathan) (2014) Nota: 7,5





Gênero: Drama
Duração: 2h21
País: RUS
Direção: Andrey Zvyagintsev
Elenco principal: Aleksei Serebryakov, Roman Madyanov, Vladimir Vdovichenkov, Elena Lyadova, Sergey Pokhodaev
Nota: 7,5

Às vezes, é bom sair um pouco de Hollywood e curtir alguns filmes de outros países, que não os Estados Unidos. São outras culturas e outros modos de fazer cinema. Geralmente, sem exageradas pirotecnias e efeitos especiais, mas com grandes cargas dramáticas e bons retratos e recortes da realidade, promovendo a identificação do público com as narrativas.

Neste post, recomendo o filme russo, Leviatã. Mesmo título do livro do filósofo e político inglês, Thomas Hobbes, publicado em 1651, na metade do século XVII, portanto. Nesta época, eram comuns na Europa os regimes centralizadores, calcados no absolutismo monárquico. Hobbes defendia a monarquia e centralização do poder na figura de uma única pessoa: o rei.

Para Hobbes, sem um comandante, a sociedade viveria numa barbárie. Em constantes crises, em guerras civis, em lutas eternas, pois, como cada um pensa apenas em si e não coletivamente, brigaria sempre por seus interesses. Hobbes popularizou as frases "o homem é inimigo do próprio homem" ou, como lemos em alguns livros de história, "o homem é o lobo do próprio homem". Por isso, para evitar o caos social, as pessoas deviam ser guiadas por um líder, um poder maior, unificador e centralizador, que seria personificado na figura do rei.

Isso seria, em tese, feito por meio de um contrato social tácito. Ou seja. "Nós, súditos e pessoas comuns, admitimos que somos como lobos e, se não houver um poder maior, viveremos em eterna guerra e conflito. Assim, concedemos o poder a um líder que nos governe e nos pacifique". Esse seria o teor básico do tal contrato social proposto por Hobbes.

O filme mostra o drama do mecânico de automóveis, Kolya (Aleksei Serebryakov), pai de uma família que está prestes a perder as terras e a casa onde vive, por conta de uma desapropriação da prefeitura. Eles moram numa habitação simples, numa península do Mar de Barents, no Ártico, na pequena cidade fictícia de Pribrezhny (cuja localidade real é o vilarejo de Teriberka), ao norte da Rússia.

O prefeito da cidade quer desapropriar as terras para fazer uma espécie de Central de Comunicação. E, obviamente, pagar muito menos do que valem. Kolya acredita que o prefeito quer as terras para construir uma casa para ele mesmo e não um próprio público.

O mecânico, então, pede ajuda do amigo e advogado que vem de Moscou, Dmitri (Vladimir Vdovichenkov). Ele tenta reverter a decisão do estado apresentada em tribunal de desapropriar as terras, demolir as construções e despejar os moradores. Como carta na manga, o advogado tem um dossiê contra o prefeito Vadim (Roman Madyanov), no qual reúne provas de vários crimes e atos de corrupção.

Paralelamente a isso, nos é apresentada a vida pessoal de Kolya, numa crise familiar constante. Seu filho, Roma (Sergey Pokhodaev), não aceita a relação do pai com a madrasta, Lilya (Elena Lyadova). Kolya é vorazmente apaixonado por ela, mas as brigas, desmandos e a falta de educação do enteado são constantes.

Voltando à disputa judicial, Kolya e Dmitri decidem, de posse do dossiê, confrontar o prefeito. Na tentativa de protocolarem uma queixa ou denúncia contra Vadim em uma delegacia, Kolya perde a cabeça e ofende os policiais que determinam sua prisão. O amigo Dmitri, então encontra Lilya para pensarem em uma saída para tirar Kolya da carceragem. Mas o encontro deles é regado a sexo.

A narrativa dá a entender que Dima (apelido do advogado no filme) e Lilya já foram amantes. E, ao se reencontrar, têm uma tarde de amor. Depois disso, Dima tenta procurar juízes, desembargadores e outros entes da justiça para formalizar a denúncia contra o prefeito. Mas esbarra na pesada burocracia da Rússia e na má vontade dos funcionários públicos.

Assim, decide ir diretamente ao encontro de Vadim. Usando o dossiê, tenta fazer com que o prefeito interfira na prisão de Kolya, liberte o amigo e ainda pague pelas terras o que elas valem, de fato. Sem saída, Vadim determina a libertação de Kolya, mas não garante o dinheiro.

Contra a parede, Vadim começa a se ver obrigado a aceitar as propostas de Dima. Então, parece que tudo vai começar a entrar nos eixos. Nesse momento, Kolya e alguns amigos decidem fazer um churrasco para comemorar o aniversário de um deles, um policial de trânsito. Dima, obviamente, também é convidado. E, durante o churrasco, o mecânico acaba flagrando Dima e Lilya transando no meio do mato.

A vida de Kolya desmorona. O enteado passa a odiá-la ainda mais. Lilya recusa-se a fugir com Dima para Moscou. E Kolya, que a ama loucamente, a aceita de volta em casa. Ela diz que quer um filho, mas a vida parece não progredir. A partir daí, paro de dar spoiler, pois o drama chega a seu ápice com desfechos para as várias problemáticas da narrativa.

O prefeito Vadim também tem uma micro-história paralela, em que sempre é aconselhado por um padre da igreja ortodoxa sobre a melhor forma de manter o seu poder e o controle sobre a sociedade. A crítica à igreja é severa, pois as palavras do padre mais lembram as de um chefe da máfia ou de um líder de gangue do que de um líder religioso que deveria pregar algo construtivo.

Dessa forma, o diretor, Andrey Zvyagintsev, sugere que o Leviatã não foi uma boa ideia política do pensador Thomas Hobbes. Dar o poder a uma pessoa, por meio de um contrato social, pode ser até uma boa saída para manter o controle dos conflitos entre os homens, mas os transfere para o estado. Estado que, agora dono do poder, encarna o Leviatã, o monstro bíblico retratado no livro de Jó, que vivia no mar e atemorizava os navegantes europeus da Idade Média, causando sempre grandes estragos e engolindo tudo o que via pela frente.

Ou seja. Ainda que o homem seja o inimigo do próprio homem, não adianta a sociedade dar o poder a uma pessoa ou ao estado por um contrato social (no caso, o prefeito Vadim, pela eleição). Pois este mesmo poder também é exercido por pessoas. Que, por analogia, acabarão, um dia, por se tornar também seus inimigos. Assim, o caos ou a guerra entre os homens não é cessada com o absolutismo ou o contrato social. Apenas os entes da guerra mudam e, nesse caso, para pior. Pois, agora, há um lado muito mais desigual e vulnerável. E um que engole tudo, como o Leviatã. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Leviatã critica o modo de sociedade da Rússia, mas transcende as fronteiras do país. A reflexão critica os políticos corruptos, a exagerada burocracia que trava o desenvolvimento e retrata uma sociedade impotente e oprimida diante do poder (político) maior.

Por fim, Andrey Zvyagintsev foi duramente criticado pelo ministro da Cultura russo, Vladimir Medinski. Ele disse que faltou um herói positivo positivo no filme. E afirmou ainda que o diretor deveria devolver o dinheiro do incentivo público à produção de filmes que usou para concluir a produção de Leviatã.

Duas últimas observações. As paisagens são belíssimas. Os cenários rústicos e duros do frio litoral russo, por vezes até hostis, aumentam a carga dramática da narrativa. E ainda vale o destaque para o enorme consumo de vodca dos personagens o tempo inteiro. Não só para esquentar o corpo por conta das baixas temperaturas, mas também como hábito e para aplacar o peso dos problemas ou comemorar as vitórias e as alegrias. Achei meio estereotipado demais, mas é um ponto muito presente no enredo e por isso o destaque. Nota 7,5! Pode ver sem medo! Um forte abraço.



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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Ponte dos Espiões (Bridge of Spies) (2015) Nota: 8,0





Gênero: Biografia / Fatos Reais / Drama
Duração: 2h21
País: EUA
Direção: Steven Spielberg
Elenco principal: Tom Hanks, Mark Rylance, Scott Shepherd, Amy Ryan, Sebastian Koch, Alan Alda, Austin Stowell, Domenick Lombardozzi, Michael Gaston, Peter McRobbie, Stephen Kunken, Joshua Harto, Edward James Hyland, Marko Caka
Nota: 8,0

Excelente! Começo a dica de hoje de modo otimista, pois Ponte dos Espiões é um filme que realmente merece ser visto. Obra de uma dobradinha conhecida do cinema: Steven Spielberg como diretor e Tom Hanks como ator.

A história em si é relativamente simples, mas o roteiro é primoroso e carrega consigo muitas referências históricas que fizeram parte do momento político mundial nos anos 50. A fotografia é linda, muito bem feita! E o figurino vai pelo mesmo caminho.

A narrativa começa em 1957, no auge da Guerra Fria e nuclear entre Estados Unidos e União Soviética. Os países nutrem um temor recíproco pelas suas capacidades e intenções nucleares e armamentistas. Ambos utilizam espiões para conseguir informações confidenciais sobre o inimigo. E ambos também tentam prender esses espiões.

Um deles é Rudolf Abel (Mark Rylance), um velhinho simpático e pacato pintor de quadros que atua como espião soviético em território americano. Ele é preso pelo FBI em Nova Iorque. No entanto, como todos merecem direito à justa defesa, Abel deve ser defendido por um advogado competente para que o julgamento tenha lisura.

A tarefa é incumbida a James Donovan (Tom Hanks), um advogado de apólices de seguros que, embora relutante, aceita pegar o caso, mesmo correndo o risco de sua imagem ficar arranhada perante seus clientes, já que este seria um caso que ele deveria, naturalmente, perder.

Mas Donovan se afeiçoa a Abel e realmente tenta defendê-lo das acusações. Donovan começa a ser mal visto pelo povo norte-americano, que não entende como um advogado de seu país pode realmente tentar defender um espião soviético, tido como um inimigo de guerra. O julgamento acontece apenas para cumprir tabela. Justo ou não, Abel pega pena de morte.

Donovan não desiste e tem uma ideia. Vai até a casa do juiz Mortimer Byers (Dakin Matthews) e o convence a alterar a sentença com a pena de execução apenas para encarceramento por 30 anos. O argumento que ele usa é que, se os EUA estão prendendo espiões soviéticos, a URSS também poderia prender espiões norte-americanos. Manter Abel vivo seria uma maneira de ter uma moeda de troca numa possível e futura negociação de permuta de prisioneiros entre os referidos governos.

E é o que acontece. A CIA começa a recrutar pilotos para sobrevoarem e fotografarem o território soviético. Um dos aviões é abatido e o piloto Francis Gary Powers (Austin Stowell) é capturado e preso pelas autoridades russas.

Ao mesmo tempo, na Alemanha, o socialismo começava a dividir a cidade Berlim em duas, com a construção do famoso e mundialmente conhecido muro. O estudante universitário de economia americano, Frederic Pryor (Will Rogers), que lá vivia, tentava atravessar de um lado para outro e acabou preso pelo governo da Alemanha Oriental.

Pela sua habilidade em argumentar (e ter conseguido reverter a pena de morte de Abel), Donovan é consultado pelo governo norte-americano para ser o negociador das trocas de Abel e Powers. A tarefa deveria ser mantida em sigilo máximo, até mesmo para sua família.

O advogado de seguros aceita a empreitada e, ao viajar para tentar negociar a troca, recebe a informação do menino preso em Berlim. Assim, Donovan tenta negociar com o governo soviético e com o alemão ao mesmo tempo, no intuito de trocar um prisioneiro russo (Abel), por dois norte-americanos (Powers e Pryor). A Alemanha Oriental queria reconhecimento político internacional e, por isso, aceitou negociar.

Assim, as negociações vão se desenrolando até o final do filme. A narrativa relembra algumas cenas históricas, marcantes e trágicas para o mundo, que faziam parte do contexto da época, como a explosão da Bomba Atômica e a construção do Muro de Berlim.

Para mim, o melhor do filme é realmente a fotografia e o modo como a história e o roteiro são conduzidos. Belos cenários, belas vestimentas. Bom texto. Sem pirotecnias. Muito interessante. Por isso, leva a nota 8,0. Não foi à toa que concorreu a seis categorias no Oscar deste ano e levou o troféu de melhor ator coadjuvante! Abaixo, aproveito e coloco o link do vídeo do amigo Roberto Rogério Rocha, que também fala sobre Ponte dos Espiões. Ele tem um canal de vídeos bem bacana! Acessem lá! Forte abraço!


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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O Bem Amado (2010) Nota: 7,0





Gênero: Comédia / Drama / Literatura
Duração: 1h47
País: BRA
Direção: Guel Arraes
Elenco principal: Marco Nanini, José Wilker, Maria Flor, Caio Blat, Andréa Beltrão, Drica Moraes, Zezé Polessa, Matheus Nachtergaele, Bruno Garcia, Tonico Pereira, Edmilson Barros
Nota: 7,0

Hoje vou dar a dica de um filme nacional. Confesso que é muito difícil eu ver um filme brasileiro que me agrade. Mas até gosto de alguns, como Carandiru, Cidade de Deus, Deus é Brasileiro e este, que vou relatar aqui: O Bem Amado.

A história, baseada na obra de Dias Gomes, praticamente todo mundo conhece. Zeca Diabo (José Wilker), assassinou o último prefeito da cidade de Sucupira e, agora, o cargo está vago. Haverá eleições e dois concorrentes polarizam a disputa pela vaga. O "capitalista" Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), um burguês, com boa lábia e o "socialista/comunista" Vladimir (Tonico Pereira), dono do jornal mais conhecido da cidade, "A Trombeta".

Sem um cemitério próprio, o corpo do prefeito assassinado teve de ser enterrado em outra cidade, causando incômodo e desconforto aos familiares e à população "sucupirense". Com a promessa de construir um cemitério para que as pessoas não precisem sair da cidade para enterrar seus mortos, Odorico Paraguaçu é eleito. Ele constrói o cemitério e rumores dão conta de que a obra teria sido superfaturada. Para mostrar a utilidade do cemitério, Odorico espera desesperadamente que alguém morra para que ele possa inaugurar a obra.

Mas, ninguém na cidade morre. Odorico, então, que enfrenta sempre a forte oposição da imprensa comandada por Vladimir, tenta, de todas as formas, fazer com que alguém morra para inaugurar o famigerado cemitério. Ele chega a levar um moribundo para a cidade, Ernesto, uma espécie de parente distante das irmãs Cajazeiras, Dulcinéia (Andréa Beltrão), Judicéia (Drica Moraes) e Dorotéia (Zezé Polessa).

As três moças, solteironas encalhadas, apoiam o prefeito Odorico e tentam fisgar o homem para se casar ccom ele. Todas tentam e nenhuma consegue. Enquanto isso, Ernesto, que então estava nas últimas, envolve-se com Judicéia, que cuida dele. O rapaz então recupera-se, fica curado e forte como um touro.

Sem o defunto esperado, Odorico recorre ao matador de aluguel, Zeca Diabo. Mas o "cabra" agora é homem direito. Disse que largou a vida de assassino, virou religioso e só mataria alguém por convicção de que o sujeito não presta ou é mau caráter. Assim, o cangaceiro não mata ninguém. Desesperado diante do cemitério elefante branco e vendo sua popularidade ir pelo ralo diante da oposição socialista, Odorico tenta de todas as formas conseguir um defunto para enterrar. E consegue apenas no fim da narrativa, de um modo, digamos, bem curioso e inusitado.

Vale demais o destaque para a atuação do Marco Nanini. É um ator com talento raro! Deu vida ao caricato Odorico Paraguaçu de uma maneira realmente divertida. Representa bem os políticos demagogos, com promessas vãs. O bom humor, aliás, é a tônica do filme, que ainda tem boas interpretações de Zezé Polessa, Andréa Beltrão e o sempre bom Tonico Pereira. É um filme curto e bem leve de assistir! Recomendo! Nota 7,0! Um forte abraço!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Origem (Inception) (2010) Nota: 9,0





Gênero: Ficção Científica / Ação / Drama / Suspense
Duração: 2h28
País: EUA
Direção: Christopher Nolan
Elenco principal: Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ellen Page, Tom Hardy, Cillian Murphy, Tom Berenger, Michael Caine
Nota: 9,0

Como disse aqui, no post de apresentação deste blog, não costumo me apegar a nomes de diretores ou atores. Para mim, o que interessa, de fato, são as histórias dos filmes. Porém, tenho de admitir que os trabalhos do diretor Christopher Nolan são absolutamente primorosos. Foi assim em Interestelar, em A Origem, além de Amnésia, Batman Begins e Batman - O Cavaleiro das Trevas. A Origem é um filme brilhante sobre um aspecto da mente humana, com uma narrativa e um enredo envolventes.

Nem parece que o filme tem quase duas horas e meia de duração. Vamos ao resumo da história. Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) e seu parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), são mestres na arte de invadir os sonhos das pessoas. Neles, aproveitam para obter informações sigilosas ou extrair segredos industriais, por exemplo. Por isso, são contratados com frequência para executar esse tipo de trabalho.

Neste filme, eles são contratados por um empresário japonês, Saito (Ken Watanabe), para, através dos sonhos, realizarem algo que nunca haviam tentado. Em vez de extrair um segredo, Saito pede que eles  insiram, plantem uma ideia na mente de seu principal concorrente nos negócios, Richard Fischer (Cillian Murphy), o herdeiro de um grande império econômico. A ideia, que seria, em tese, originada na própria mente dele, o faria desistir de determinado ramo de atividade e desmembrar o império, eliminando a concorrência com Saito. Poderoso, Saito promete a Cobb que, em troca do trabalho, limparia sua ficha criminal, que estava suja e impedia que o rapaz retornasse aos Estados Unidos para ver seus filhos.

Cobb é considerado foragido por suspeita de assassinato da própria esposa, Mal (Marion Cotillard). No início do filme, não fica claro como e se isso teria mesmo acontecido. Por conta da situação, ele carrega um trauma. Memórias da esposa falecida atormentam sua mente e, muitas vezes, impedem sua concentração no trabalho.

Usando a estratégia dos "sonhos lúcidos" na narrativa, Nolan estabelece algumas regras para o telespectador entender se os personagens estão sonhando ou se estão no mundo real. A dor, por exemplo, é sentida no sonho. Mas a morte faz com que a pessoa desperte. Outra coisa importante: os personagens carregam consigo um objeto chamado de totem, feito no mundo real, para saber se estão sonhando ou se estão acordados. Mais um conceito relevante: é possível que haja camadas (graus) de sonhos, com um sonho dentro de outro. Se a pessoa morre nessas camadas mais profundas, não consegue acordar e fica no limbo, vivendo eternamente no sonho.

A aventura e a ação se passam nesses vários graus de sonhos, fazendo com que, algumas vezes, eles  atinjam o terceiro grau. Ou seja, para desarmar a mente de Fischer, que tem treinamento contra os ladrões de sonhos, é preciso que se produza um sonho, dentro de um sonho, dentro de outro sonho. Para isso, Cobb conta com a ajuda da arquiteta de sonhos, Ariadne (Ellen Page) e de Eames (Tom Hardy), que consegue mudar de aparência física nos sonhos, tomando a forma de outras pessoas. Por exemplo, em dado momento da narrativa, Eames se transforma no padrinho de Fischer, em quem ele confia, para tentar extrair informações.

Quando o pai de Fischer, já em estado terminal, morre, o filho Richard vai pegar um voo para Los Angeles para resolver os trâmites burocráticos. Neste momento, a equipe de Cobb consegue sedá-lo no avião e entra em seus sonhos enquanto ele e, obviamente, todos, dormem durante a viagem. E aí a história se desenrola.

Repito: enredo e narrativa primorosos. Exigem atenção e concentração do telespectador para entender a história. Um filme cerebral, digno dos investimentos iniciais de 160 milhões de dólares pagos pela Warner e pela Legendary Pictures. E digno também da arrecadação de mais de 820 milhões de dólares de bilheteria. Merecedor de cada uma das quatro categorias que venceu no Oscar de 2011 (melhor fotografia, melhores efeitos visuais, melhor edição de som e melhor mixagem de som). A fotografia e a trilha sonora (composta por Hans Zimmer), realmente, são obras-primas.

A Origem mistura ação, aventura, suspense, drama e ficção científica de uma maneira formidável, com os estilos e elementos minuciosamente bem encaixados, numa história que prende a atenção do público e tira o fôlego do início ao fim! Belíssima obra! Para quem não viu, recomendo! Impossível não gostar! Baita filme! Nota 9,0. Um forte abraço!

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