sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Leviatã (Leviathan) (2014) Nota: 7,5





Gênero: Drama
Duração: 2h21
País: RUS
Direção: Andrey Zvyagintsev
Elenco principal: Aleksei Serebryakov, Roman Madyanov, Vladimir Vdovichenkov, Elena Lyadova, Sergey Pokhodaev
Nota: 7,5

Às vezes, é bom sair um pouco de Hollywood e curtir alguns filmes de outros países, que não os Estados Unidos. São outras culturas e outros modos de fazer cinema. Geralmente, sem exageradas pirotecnias e efeitos especiais, mas com grandes cargas dramáticas e bons retratos e recortes da realidade, promovendo a identificação do público com as narrativas.

Neste post, recomendo o filme russo, Leviatã. Mesmo título do livro do filósofo e político inglês, Thomas Hobbes, publicado em 1651, na metade do século XVII, portanto. Nesta época, eram comuns na Europa os regimes centralizadores, calcados no absolutismo monárquico. Hobbes defendia a monarquia e centralização do poder na figura de uma única pessoa: o rei.

Para Hobbes, sem um comandante, a sociedade viveria numa barbárie. Em constantes crises, em guerras civis, em lutas eternas, pois, como cada um pensa apenas em si e não coletivamente, brigaria sempre por seus interesses. Hobbes popularizou as frases "o homem é inimigo do próprio homem" ou, como lemos em alguns livros de história, "o homem é o lobo do próprio homem". Por isso, para evitar o caos social, as pessoas deviam ser guiadas por um líder, um poder maior, unificador e centralizador, que seria personificado na figura do rei.

Isso seria, em tese, feito por meio de um contrato social tácito. Ou seja. "Nós, súditos e pessoas comuns, admitimos que somos como lobos e, se não houver um poder maior, viveremos em eterna guerra e conflito. Assim, concedemos o poder a um líder que nos governe e nos pacifique". Esse seria o teor básico do tal contrato social proposto por Hobbes.

O filme mostra o drama do mecânico de automóveis, Kolya (Aleksei Serebryakov), pai de uma família que está prestes a perder as terras e a casa onde vive, por conta de uma desapropriação da prefeitura. Eles moram numa habitação simples, numa península do Mar de Barents, no Ártico, na pequena cidade fictícia de Pribrezhny (cuja localidade real é o vilarejo de Teriberka), ao norte da Rússia.

O prefeito da cidade quer desapropriar as terras para fazer uma espécie de Central de Comunicação. E, obviamente, pagar muito menos do que valem. Kolya acredita que o prefeito quer as terras para construir uma casa para ele mesmo e não um próprio público.

O mecânico, então, pede ajuda do amigo e advogado que vem de Moscou, Dmitri (Vladimir Vdovichenkov). Ele tenta reverter a decisão do estado apresentada em tribunal de desapropriar as terras, demolir as construções e despejar os moradores. Como carta na manga, o advogado tem um dossiê contra o prefeito Vadim (Roman Madyanov), no qual reúne provas de vários crimes e atos de corrupção.

Paralelamente a isso, nos é apresentada a vida pessoal de Kolya, numa crise familiar constante. Seu filho, Roma (Sergey Pokhodaev), não aceita a relação do pai com a madrasta, Lilya (Elena Lyadova). Kolya é vorazmente apaixonado por ela, mas as brigas, desmandos e a falta de educação do enteado são constantes.

Voltando à disputa judicial, Kolya e Dmitri decidem, de posse do dossiê, confrontar o prefeito. Na tentativa de protocolarem uma queixa ou denúncia contra Vadim em uma delegacia, Kolya perde a cabeça e ofende os policiais que determinam sua prisão. O amigo Dmitri, então encontra Lilya para pensarem em uma saída para tirar Kolya da carceragem. Mas o encontro deles é regado a sexo.

A narrativa dá a entender que Dima (apelido do advogado no filme) e Lilya já foram amantes. E, ao se reencontrar, têm uma tarde de amor. Depois disso, Dima tenta procurar juízes, desembargadores e outros entes da justiça para formalizar a denúncia contra o prefeito. Mas esbarra na pesada burocracia da Rússia e na má vontade dos funcionários públicos.

Assim, decide ir diretamente ao encontro de Vadim. Usando o dossiê, tenta fazer com que o prefeito interfira na prisão de Kolya, liberte o amigo e ainda pague pelas terras o que elas valem, de fato. Sem saída, Vadim determina a libertação de Kolya, mas não garante o dinheiro.

Contra a parede, Vadim começa a se ver obrigado a aceitar as propostas de Dima. Então, parece que tudo vai começar a entrar nos eixos. Nesse momento, Kolya e alguns amigos decidem fazer um churrasco para comemorar o aniversário de um deles, um policial de trânsito. Dima, obviamente, também é convidado. E, durante o churrasco, o mecânico acaba flagrando Dima e Lilya transando no meio do mato.

A vida de Kolya desmorona. O enteado passa a odiá-la ainda mais. Lilya recusa-se a fugir com Dima para Moscou. E Kolya, que a ama loucamente, a aceita de volta em casa. Ela diz que quer um filho, mas a vida parece não progredir. A partir daí, paro de dar spoiler, pois o drama chega a seu ápice com desfechos para as várias problemáticas da narrativa.

O prefeito Vadim também tem uma micro-história paralela, em que sempre é aconselhado por um padre da igreja ortodoxa sobre a melhor forma de manter o seu poder e o controle sobre a sociedade. A crítica à igreja é severa, pois as palavras do padre mais lembram as de um chefe da máfia ou de um líder de gangue do que de um líder religioso que deveria pregar algo construtivo.

Dessa forma, o diretor, Andrey Zvyagintsev, sugere que o Leviatã não foi uma boa ideia política do pensador Thomas Hobbes. Dar o poder a uma pessoa, por meio de um contrato social, pode ser até uma boa saída para manter o controle dos conflitos entre os homens, mas os transfere para o estado. Estado que, agora dono do poder, encarna o Leviatã, o monstro bíblico retratado no livro de Jó, que vivia no mar e atemorizava os navegantes europeus da Idade Média, causando sempre grandes estragos e engolindo tudo o que via pela frente.

Ou seja. Ainda que o homem seja o inimigo do próprio homem, não adianta a sociedade dar o poder a uma pessoa ou ao estado por um contrato social (no caso, o prefeito Vadim, pela eleição). Pois este mesmo poder também é exercido por pessoas. Que, por analogia, acabarão, um dia, por se tornar também seus inimigos. Assim, o caos ou a guerra entre os homens não é cessada com o absolutismo ou o contrato social. Apenas os entes da guerra mudam e, nesse caso, para pior. Pois, agora, há um lado muito mais desigual e vulnerável. E um que engole tudo, como o Leviatã. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Leviatã critica o modo de sociedade da Rússia, mas transcende as fronteiras do país. A reflexão critica os políticos corruptos, a exagerada burocracia que trava o desenvolvimento e retrata uma sociedade impotente e oprimida diante do poder (político) maior.

Por fim, Andrey Zvyagintsev foi duramente criticado pelo ministro da Cultura russo, Vladimir Medinski. Ele disse que faltou um herói positivo positivo no filme. E afirmou ainda que o diretor deveria devolver o dinheiro do incentivo público à produção de filmes que usou para concluir a produção de Leviatã.

Duas últimas observações. As paisagens são belíssimas. Os cenários rústicos e duros do frio litoral russo, por vezes até hostis, aumentam a carga dramática da narrativa. E ainda vale o destaque para o enorme consumo de vodca dos personagens o tempo inteiro. Não só para esquentar o corpo por conta das baixas temperaturas, mas também como hábito e para aplacar o peso dos problemas ou comemorar as vitórias e as alegrias. Achei meio estereotipado demais, mas é um ponto muito presente no enredo e por isso o destaque. Nota 7,5! Pode ver sem medo! Um forte abraço.



Facebook: https://www.facebook.com/leandromartinsjornalista
LinkedIn: https://br.linkedin.com/in/leandromartinsjornalista

PORTIFÓLIO ONLINE:
Esporte na Rede (Apresentador): http://www.youtube.com/playlist?list=PLRGSEWuLuYihlxNYE6IqfMsOfi-_9qC7W

Programa Câmara em Pauta: (Apresentador): http://www.youtube.com/playlist?list=PLRGSEWuLuYig7m7XR73tuGbaYiKmO6dr_

Reportagens e entradas ao vivo: http://www.youtube.com/playlist?list=PLRGSEWuLuYiiehtWKOSNGSPwlQOrvO0Ws

Narração esportiva: https://www.youtube.com/watch?v=USJStqjbTKU

Jornal da Câmara, programa Ponto de Vista e outras participações em TV: https://www.youtube.com/playlist?list=PLRGSEWuLuYihKUR2FcbjDFMSy6XFpOzT-



Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que achou do filme?